Na brilhante obra How to read a book, já traduzida no Brasil com o título Como ler livros (É Realizações, 2010), o filósofo da educação Mortimer J. Adler faz logo no início uma afirmação de que ‘é necessário questionar se as comunicações modernas realmente aumentam o conhecimento sobre o mundo à nossa volta’. Ao tratar do tema leitura, não poderia ter começado melhor, penso eu.
Nosso país expele diariamente títulos, diplomas, cargos e produtos de mesma espécie na igual medida em que se nota uma enxurrada de opiniões vazias, pessoas em constante ‘oposição de ideias’, jornais, revistas e sites cheios de erros primários de português e lógica, e por aí vai. Ah, e o mercado editorial não vai de mal a pior: milhares de leitores compram e leem, compartilham e fazem a máxima ‘incentivar a leitura’ se tornar cada vez mais uma realidade. Porém muitos, principalmente os que acompanham a grande mídia e – complementos dela – as redes sociais, acreditam piamente serem indivíduos melhor informados, ‘conectados com a realidade’, leitores ou espectadores de altíssimo calibre. Por que não dizer ‘mini-formadores de opinião’? Acreditam mesmo estarem capazes de participar de um debate intelectual, coisa rara no Brasil se levarmos em conta que o que predomina é tão somente o discurso partidário-ideológico.
Antonin Sertillanges, padre francês do século XX comprometido com educação, escreve também acerca dos perigos de dar aos meios de comunicação de massa mais importância do que realmente merecem. ‘Quanto aos jornais, defendam-se contra eles […]’, alerta o teólogo em A vida intelectual: seu espírito, suas condições e seus métodos; ‘Eles contêm tão pouco!’.
Seria por demais pueril escrever estas linhas apenas com o objetivo de atacar a mídia. Não é minha intenção. Não é um “chega-pra-lá”.
Se os leitores se utilizam única e exclusivamente dos chavões e cacoetes bem batidos e triturados para a fácil degustação que lhes servem todos os dias, como garantir a efetiva interpenetração das consciências, a participação dos interlocutores num mesmo conjunto de experiências cognitivas, a compreensão e o enriquecimento mútuos? Considero que seja isto o real significado de ‘conhecimento sobre o mundo à nossa volta’. É preciso dar a si a oportunidade de conhecer autores que vão na contramão do senso comum, a cultura popular como instrumento de captação da realidade mesma, os lugares que elevam o espírito (porquê não?). Nunca ouvi dizer que alguém tenha passado mal ao visitar dedicadamente uma boa livraria, por exemplo, sobretudo em sessões de notável importância para o conhecimento de problemas reais e, mais do que isto, urgentes da atual sociedade em que vivemos. Uma boa leitura não faz mal a ninguém.