O Grupo Terceiro Corpo retoma seu segundo espetáculo no Teatro Dragão do Mar, inspirado na atriz, diretora e militante de esquerda Asla Lacis, que trabalhou a favor do proletariado e das crianças órfãs de guerra, na Rússia do início do século XX.
A peça destaca o protagonismo da mulher num momento da história política e cultural restrito à atuação dos homens e para os homens, suas lutas, conquistas, desafios e memórias.
A encenação do Terceiro Corpo traça não apenas o perfil da artista e militante Asja Lacis, que trabalhou a favor do proletariado e das crianças órfãs de guerra, na Rússia do início do século XX mas, também, a tessitura dramática liderada por Asja para apresentar uma nova forma de fazer e ensinar teatro, numa cena incomum para a participação e empoderamento feminino.
O escritor argentino Ricardo Piglia fala de Asja Lacis: “Em 1923, em Berlim, Brecht conhece a diretora teatral soviética Asja Lacis, e é ela que o põe em contato com as teorias e experiências da vanguarda soviética”. Com essas informações, diz a diretora Maria Vitória (Terceiro Corpo), veio o desejo de conhecer mais a biografia e a força dessa mulher.
Ricardo Piglia afirma ainda que: “por intermédio de Asja Lacis, Brecht conhece a teoria da ostranenie elaborada pelos formalistas russos e por ele traduzida como efeito de estranhamento. É notável o deslocamento operado por Brecht para mostrar a origem russa de sua teoria do distanciamento.”, afirma.
A peça teve o apoio do Programa de produção e publicação em artes 2016 de Fortaleza – Instituto Bela Vista/ SECULTFOR, e participou do Laboratório de Pesquisa Teatral do Porto Iracema da Artes em 2015.
Apresentar o espetáculo “Asja Lacis já não me escreve” representa a consolidação e o compartilhamento de uma pesquisa que se desenvolve há mais de quatro anos, movida pela realização de um sonho que a cada encontro se concretiza, onde a cena é o resultado de um processo decorrente de laboratórios de criação.
O espetáculo joga com o teatro dança e com o compartilhamento de personagens entre as atrizes e o ator, trazendo coreografias, ações e imagens corporais que compõem a dramaturgia da cena, num misto de realidade e ficção. A transcrição dramatúrgica e a direção ficam a cargo de Maria Vitória e no elenco Juliana Carvalho, Marcos Paulo e Nádia Fabrici.
Grupo Terceiro Corpo – Trajetória de pesquisa
O Grupo Terceiro Corpo, formado por Jéssica Teixeira, Juliana Carvalho, Marcos Paulo, Maria Vitória, Nádia Fabrici e Sara Síntique, surgiu de uma vontade latente de pesquisar o trabalho do ator. Desde fevereiro do ano de 2014, o Grupo Terceiro Corpo se reúne sistematicamente e vem dando vida aos laboratórios de criação em torno do trabalho do ator, a partir da experimentação do Solo-coletivo.
A primeira peça escolhida para montagem, Tudo ao Mesmo Tempo Agora, escrita por Maria Vitória, foi agraciada pelo Prêmio de Dramaturgias Femininas e foi a base para o primeiro laboratório de ator desenvolvido pelo Grupo Terceiro Corpo.
A noção de Solo-coletivo propõe a experiência de personagem partilhada, ou seja, temos apenas uma personagem em cena e mais de um ator para representá-la. Com a participação do grupo na Temporada de Arte Cearense, o espetáculo Asja Lacis já não me escreve retorna amadurecido cenicamente após interagir com varios públicos da cidade e do interior do estado.
Paixão
Pelo que consta em algumas citações do escritor argentino Ricardo Piglia, Asja foi uma atriz e diretora de teatro que influenciou de forma significativa o meio teatral, em especial, o alemão Bertolt Brecht. Asja Lacis foi também colaboradora de Meyerhold e de Eisenstein, próxima do grupo de Maiakóvski.
Asja foi uma grande paixão de Walter Benjamin, e por intermédio dela Brecht e Benjamin se conhecem. Em fim dos anos 30, Asja Lacis desaparece num campo de concentração stalinista. “Asja Lacis já não me escreve”, registra Brecht em seu diário de janeiro de 1939.
Sinopse – Asja Lacis já não me escreve
Asja Lacis, mola propulsora da peça “Asja Lacis já não me escreve”, era uma revolucionária, atriz e diretora de teatro russa. Mulher apaixonada que acreditava no poder revolucionário do teatro, Asja desenvolveu incansavelmente um teatro com operários e com crianças órfãs de guerra.
Asja é o roteiro da vanguarda e da luta da mulher pelo que precisa ser dito e exposto, seja através da arte ou da vida, onde tudo acaba se misturando. Em fim dos anos 30, Asja Lacis desaparece num campo de concentração stalinista e Brecht registra em seu diário de janeiro de 1939: “Asja Lacis já não me escreve”. A peça traz às luzes da ribalta a vida dessa mulher que foi eclipsada pela história do teatro Ocidental
Ficha técnica
Direção e transcriação dramatúrgica: Maria Vitória.
Elenco: Juliana Carvalho, Marcos Paulo e Nádia Fabrici.
Figurino: Maria Vitória
Iluminação: Maria Vitória e Rami Freitas
Realização: Grupo Terceiro Corpo
Serviço
“Asja Lacis já não me escreve” – Temporada de Arte Cearense – Terça com teatro
Local: Teatro Dragão do Mar.
Datas: 03, 10, 17 e 24 de setembro
Horário: 20h
Ingressos: R$10,00 (inteira) e R$5,00 (meia).