Por Marcelo Navarini*
Dificilmente encontraremos alguém que não tenha lido ou escutado algo sobre ChatGPT ou inteligência artificial nos últimos meses. O tema, que tomou conta dos noticiários de tecnologia e negócios, trouxe à tona diversas discussões sobre os benefícios e desvantagens por trás da adoção de IA. No entanto, muito desse debate se concentrou em torno das grandes empresas e Big Techs que deram início a uma corrida acirrada para desenvolverem suas próprias plataformas, como é o caso do Google, com o anúncio do Bard; a Meta com a LLaMA; e antes disso a Microsoft, que novamente investiu bilhões de dólares na OpenAI, startup por trás do chatbot ChatGPT.
Mas saindo do mundo das Big Techs, será que micro, pequenos e médios empreendedores poderão se beneficiar da adoção de inteligência artificial em seus negócios? Ou será que toda essa disrupção está reservada apenas para as gigantes do mercado? Talvez ainda não tenhamos todas as respostas, mas é provável que em breve, empreendedores de menor porte consigam aproveitar essa nova onda tecnológica.
Segundo pesquisa realizada pela EY e BotCity, a automação por meio de robôs, ou RPA, bem como a inteligência artificial são fortes tendências para os setores de varejo, e-commerce e indústrias em 2023. O estudo, realizado com líderes e decisores de mais de 200 empresas de diversos setores em países como Brasil, Colômbia, Chile, Peru e Argentina, mostra que 66% das empresas pretendem aumentar o investimento em RPA para ganhar escala, com destaque para setores de logística, varejo, e-commerce e indústrias que são os que apresentam o estágio mais avançado na estratégia e operação da tecnologia de automação.
Como podemos perceber, a hiperautomação já é objeto de desejo de diversos players, pois é justamente a junção de RPA e Inteligência Artificial que possibilita a utilização de soluções como ChatGPT e GitHub Copilot. Quando buscamos aplicar essa nova tecnologia para a realidade dos pequenos empreendedores, em especial aqueles que disponibilizam seus produtos e serviços na internet, diversas atividades podem ser otimizadas, como soluções de atendimento e recomendação, definição de regras de negócios conforme o contexto do cliente, e também a descrição de produtos no e-commerce, fator importantíssimo para as vendas.
Diferente da loja física, onde o vendedor está ali pronto para cativar o cliente e oferecer diversos produtos até encontrar o que lhe agrade, a loja virtual precisa encantar de outras maneiras. Por esse motivo, a descrição de produtos bem feita pode não só aumentar o tráfego dentro do site e influenciar positivamente o SEO, como também servirá como tática de venda dentro do e-commerce.
A descrição de produtos e a conversa contextual é o ponto inicial que irá manter o usuário dentro do seu site. Ou seja, assim que ele acessar a loja virtual é a descrição que fará com que ele decida se deseja continuar ali ou não. Toda descrição deve responder perguntas como: o que é o produto, quais problemas ele resolve, quais são os diferenciais, como ele é feito, cuidados, material e como utilizar o produto.
Pode parecer uma tarefa simples mas é de extrema importância para o negócio e que pode demandar muito tempo do empreendedor, tempo este que ele poderia utilizar com outras atividades do negócio. É justamente para ajudar no desempenho de tarefas que se percebe o potencial desta tecnologia.
É importante reforçar que o ChatGPT, assim como outros chatbots com inteligência artificial, está em constante evolução e por isso são passíveis de erros. Aderir à ferramenta não significa que a revisão de uma pessoa é dispensável, pelo contrário. Possivelmente haverá um período de transição, com maior grau de supervisão humana. Contar com os bilhões de dados dos quais o ChatGPT pode levantar informações sobre o produto ajudará e muito no desenvolvimento das descrições. Em poucos minutos, o chatbot pode entregar diversas sugestões criativas das quais podemos extrair a versão final ideal.
Vamos aguardar os próximos desdobramentos dessa corrida que já se apresenta repleta de possibilidades e cases de uso.
* Marcelo Navarini é Diretor do Bling, sistema de gestão da Locaweb Company. O executivo é Administrador e Mestre em Economia Internacional. Antes do Bling, Navarini atuou como Investment Officer na CRP Cia de Participações, em transações de Venture Capital e Private Equity, além de outras experiências em empresas do setor financeiro e de bens de consumo. Atualmente acumula, também, o cargo de Diretor de Operações da Pagcerto.