Por Marcos Sá, especialista em contabilidade e economia.
Nesta última semana, o mercado de criptomoedas se viu abalado por artigos e comentários negativos de economistas e investidores renomados, como Michael Burry, Ray Adalio e Bernard Connolly, que afirmam estarem surgindo bolhas econômicas em torno desse mercado, o que lembra bastante a bolha imobiliária de 2008 nos Estados Unidos, que levou a uma crise mundial. O economista libanês Nassim Taleb, ferrenho defensor desse modo de economia, chegou recentemente a bater boca em uma rede social ao afirmar que o Bitcoin “valia zero”.
O que mais impressiona nessas afirmações, é a curva incomum do que está acontecendo atualmente no mercado de criptomoedas, com os investimentos sendo ainda maiores nas exchange’s (corretoras financeiras de bitcoin). Porém, as afirmações dos economistas não se mostram totalmente infundadas. O maior exemplo se dá por Michael Burry, que anos antes da bolha imobiliária estadunidense implodir e levar bancos e empresas financeiras a falência, apostou contra o sistema de hipotecas não honradas, ou “subprimes”, e gerou fortuna para seu pequeno grupo de investimento, não sem antes ser contestado por todos ao seu redor enquanto o pior não vinha.
De forma incontestável, no cenário atual, as políticas monetárias dos bancos centrais para gerar caixa e financiar planos de combate à recessão causada pela pandemia, e a falta de austeridade fiscal são os motivos que podem levar a uma nova crise.
O que é complementado por Bernard Connolly, em seu mais recente artigo “Como uma bolha no bitcoin pode levar à hiperinflação”, para o portal Money Week, aponta para dois caminhos que trariam consequências indesejáveis para o cenário atual do mercado de criptomoedas. A primeira delas se trata de uma transferência de riqueza dos investidores que compraram bitcoin por último para os que compraram primeiro, o que geraria um “colapso sócio-político”.
O segundo ponto levantado por Bernard é que, como o preço do Bitcoin tende ao infinito, devido à dificuldade de se minerar e o tempo que se leva para obter um completo, sem falar nos altos custos de se manter a nova máquina econômica girando, assim como o mercado acionário e investimentos de renda variável, isso poderia fazer que uma bolha especulativa de Bitcoin supere a quantidade de bens e consumos das economias e isso cause o estouro dessa bolha.
E após isso ocorrer, haverá uma hiperinflação em dólares, reais, euros e demais moedas fiduciárias, simplesmente porque a maior parte da energia monetária do mundo estará alocada na rede descentralizada de bitcoin e não no dinheiro estatal, emitido por instituições financeiras de competência.
O texto de Connolly, enxerga muito além do que se pode observar no cenário atual, visionários de mercado nem sempre serão compreendidos, como foi no início da era Bitcoin. Mas afinal, a ideia de não saber se o futuro é algo para ser temido ou esperado, é algo mais assustador do que uma nova crise mundial?